A venda do Novo Banco ao grupo financeiro francês BPCE por 6,4 mil milhões de euros marca o fim de um capítulo controverso na banca portuguesa, mas a atribuição de prémios milionários aos gestores do fundo Lone Star e do próprio banco está a gerar forte polémica. A transação, que representa um ganho estimado de 4,8 mil milhões de euros para a gestora norte-americana Lone Star, que detinha 75% do capital desde 2017, culmina num desfecho financeiramente positivo para o fundo. Contudo, a revelação de que cerca de 1,1 mil milhões de euros desses lucros serão distribuídos como prémios a gestores está a causar indignação. Este montante, que equivale a aproximadamente um terço do apoio público mobilizado para o banco, será repartido por executivos da Lone Star e por gestores e ex-gestores do Novo Banco, incluindo o antigo presidente António Ramalho, que deverá receber entre sete a 10 milhões de euros.
A dimensão dos bónus, num contexto de forte apoio estatal à instituição ao longo dos anos, levanta questões sobre a equidade e a moralidade da operação.
A complexidade do processo é acentuada por desafios contratuais.
Embora o contrato de compra e venda (SPA) com a Lone Star tenha sido assinado a 1 de agosto, a adesão dos acionistas públicos — o Fundo de Resolução (13,54%) e o Estado (11,46%) — continua pendente. Fontes do Fundo de Resolução confirmam que está “a decorrer um processo de diálogo entre todos os intervenientes com vista a definir os termos do acordo”, uma vez que certas cláusulas do contrato, regido por lei inglesa, não são aplicáveis ou adequadas a entidades públicas portuguesas, que não podem assumir as mesmas obrigações que o vendedor privado.
A conclusão da operação está prevista para o início de 2026.
Em resumoA venda do Novo Banco ao BPCE encerra um ciclo, mas a distribuição de bónus de 1,1 mil milhões de euros a gestores da Lone Star e do banco gera controvérsia, contrastando com o apoio público recebido pela instituição. A finalização do negócio aguarda ainda a resolução de complexidades contratuais para vincular os acionistas públicos, o Fundo de Resolução e o Estado.