O protesto, que assinalou o Dia Mundial do Professor, reflete um profundo e prolongado descontentamento que afeta o sistema de ensino público nacional. A manifestação percorreu a capital desde o Jardim do Arco do Cego até à Presidência do Conselho de Ministros, com os docentes a empunhar cartazes que resumiam as suas principais reivindicações: uma “carreira atrativa”, “aposentação justa”, “horários adequados” e o fim das quotas na avaliação de desempenho e das vagas de acesso ao 5.º e 7.º escalões. O secretário-geral da Fenprof, Francisco Gonçalves, acusou o Governo de protelar a revisão do Estatuto da Carreira Docente (ECD), afirmando que a intenção de prolongar o processo até 2027 visa “adormecer o professorado”. O dirigente sindical garantiu que a Fenprof não aceitará um acordo que adie a conclusão para lá de 2027 e que não priorize a estrutura da carreira, os salários e a avaliação.

As exigências centrais incluem a redução da carreira para 26 anos até ao topo, a recuperação integral do tempo de serviço e uma valorização salarial, com especial atenção aos escalões iniciais.

Os testemunhos dos manifestantes espelham a dureza da profissão.

Professores com décadas de serviço, como Isabel Braga, descrevem uma sobrecarga de tarefas administrativas que os impede de se dedicarem à pedagogia, resultando em “imensa gente com burnout” ou de “baixa psiquiátrica”.

Outros, como André Crespo, relatam a precariedade vivida durante anos como contratados, correndo o país com horários incompletos.

A presença de figuras políticas do PCP e do Bloco de Esquerda na manifestação sublinha a dimensão política do descontentamento, com Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP, a lembrar as “milhares de crianças ainda sem professor nas escolas” como consequência da desvalorização da profissão.