Este crescimento representa um acréscimo de 15 mil milhões de euros para os cofres do Estado, mas analistas alertam que o esforço fiscal não tem sido acompanhado por uma melhoria percebida nos serviços públicos. Uma análise da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) revela que, após atingir um mínimo histórico em 2009, a carga fiscal entrou numa trajetória ascendente, atingindo o seu pico em 2022.

Segundo o ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Carlos Lobo, este agravamento é "estrutural, sustentado na evolução das contribuições sociais, na fiscalidade empresarial e nos efeitos indiretos das respostas orçamentais à inflação".

O fiscalista João Espanha atribui responsabilidades a governos anteriores, acusando Passos Coelho do "enorme aumento de impostos" no IRS e António Costa de ter tornado permanentes medidas que eram provisórias, enquanto aumentava os impostos indiretos, que possuem um "efeito de anestesia fiscal".

Esta dependência crescente da tributação sobre o consumo, como o IVA, é vista por Carlos Lobo como tendo "consequências regressivas evidentes".

Luís Leon, cofundador da consultora Ilya, corrobora esta visão, afirmando que "a austeridade não só não acabou como vai continuar" enquanto a dívida pública não for substancialmente reduzida.

A perceção geral, partilhada pelos especialistas, é que "a desproporção entre o que se paga e o que se recebe está a corroer a legitimidade do sistema fiscal", minando a confiança dos cidadãos no Estado.