O Governo admitiu a existência de fragilidades no sistema fiscal português que contribuem para a elevada litigância, sinalizando a necessidade de reformas tanto na legislação como na atuação da Autoridade Tributária e Aduaneira (AT). Esta posição surge na sequência da entrega de um relatório por uma comissão de especialistas com propostas para reforçar as garantias dos contribuintes. A Secretária de Estado dos Assuntos Fiscais, Cláudia Reis Duarte, reconheceu que "o legislador pode e deve fazer um esforço contínuo de melhoramento dos textos legislativos" e que a AT "terá sempre espaço de melhoria". A governante destacou áreas onde a administração fiscal pode evoluir, como ser "mais célere na resolução de pedidos de informação vinculativa", simplificar procedimentos e desenvolver "mecanismos que potenciem o cumprimento voluntário", pois "mais e melhor cumprimento voluntário significa necessariamente menos litígios".
A simplificação, segundo Cláudia Reis Duarte, é "essencial" para tornar o sistema "mais claro, mais acessível e, com isso, menos propenso ao litígio".
O Executivo tem em mãos as propostas da Comissão para a Revisão do Processo e do Procedimento Tributário, liderada por Rogério Fernandes Ferreira.
Entre as 90 propostas, destacam-se a fixação de um prazo máximo de 20 anos para a prescrição de dívidas fiscais, a determinação de um prazo de 90 dias para executar sentenças e a clarificação de que a AT pode ser multada por litigância de má-fé, especialmente quando atua "contra informações vinculativas previamente emitidas ou contra orientações genéricas que ela própria tenha emitido". A comissão propõe ainda que as notificações oficiais, como citações ou penhoras, sejam complementadas por contacto via email ou telefone, para aumentar a transparência e evitar que os contribuintes desconheçam os processos contra si.
Em resumoO Governo reconhece a necessidade de reformar o sistema fiscal para reduzir o número de litígios, focando-se na melhoria da clareza legislativa e na eficiência da Autoridade Tributária. As propostas da comissão de especialistas, que incluem a limitação da prescrição de dívidas e a responsabilização da AT por má-fé, estão a ser analisadas para uma futura alteração legislativa.