A morosidade e a complexidade do sistema de justiça fiscal em Portugal estão no centro de um debate sobre a necessidade de uma reforma profunda, impulsionado por propostas de uma comissão de peritos e pelo reconhecimento do próprio Governo de que existem falhas a corrigir. A lentidão dos processos, com um prazo médio de decisão de 55 meses nos tribunais de primeira instância, é vista como um dos principais entraves à eficiência e à justiça na relação entre o Estado e os contribuintes. Sérgio Vasques, antigo Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, classificou a situação como um sinal de que, “em 50 anos de democracia, não conseguimos construir um sistema de justiça funcional”. A Secretária de Estado dos Assuntos Fiscais, Cláudia Reis Duarte, reconheceu que “o legislador pode e deve fazer um esforço contínuo de melhoramento dos textos legislativos” e que a Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) “terá sempre espaço de melhoria”, nomeadamente em ser “mais célere na resolução de pedidos de informação vinculativa”.
Para dar resposta a estes desafios, a Comissão para a Revisão do Processo e do Procedimento Tributário, liderada por Rogério Fernandes Ferreira, entregou ao Governo um relatório com cerca de 90 propostas.
Entre as medidas mais impactantes está a sugestão de que “a Administração tributária deverá ser multada e responsabilizada por litigância de má-fé”, especialmente quando atua contra as suas próprias orientações. A comissão propõe ainda a fixação de um prazo de prescrição absoluto de 20 anos para as dívidas fiscais, para evitar que estas se arrastem indefinidamente, e a obrigatoriedade de a AT utilizar meios de contacto mais diretos, como email ou telefone, para notificações importantes como penhoras.
Em resumoFace a uma demora média de mais de quatro anos nos tribunais fiscais, uma comissão de peritos propôs uma reforma do contencioso tributário. As principais medidas visam responsabilizar a Autoridade Tributária por litigância de má-fé e estabelecer um prazo máximo de prescrição para dívidas fiscais, com o objetivo de criar um sistema mais célere, justo e previsível.