Esta tendência reflete uma estratégia orçamental que, segundo especialistas, penaliza de forma desproporcional as famílias de menores rendimentos.

De acordo com a proposta de Orçamento do Estado para 2026, o peso dos impostos sobre o consumo na receita fiscal total deverá aumentar para 53,5%, igualando o recorde registado em 2021. Esta subida representa a continuação de uma tendência, com o valor a passar de 52,1% em 2024 para 52,9% em 2025. O Governo projeta um aumento da receita fiscal total de 4,4% em 2026, para 67 mil milhões de euros, impulsionado por um crescimento de 4,9% nos impostos indiretos, superior ao dos impostos diretos (3,7%). Economistas explicam que a preferência por esta via de tributação se deve ao seu “menor custo político”, um fenómeno conhecido como “anestesia fiscal”, dado que os impostos estão diluídos nos preços de bens e serviços. Contudo, alertam que esta estratégia é estruturalmente regressiva.

Um relatório da Unidade Técnica de Avaliação de Políticas Tributárias e Aduaneiras (U-TAX) confirma que, apesar de existirem alguns mecanismos de atenuação, a estrutura do IVA continua a pesar mais sobre os contribuintes com menores recursos. A consolidação das contas públicas dependerá, assim, novamente da tributação sobre o consumo, uma escolha política deliberada que afeta o custo de vida de toda a população.