Relatórios da OCDE e da Tax Justice Network expõem a dupla realidade do peso e da fuga fiscal destes grandes grupos económicos. De acordo com um relatório da OCDE, as multinacionais garantiram 29% da receita total de IRC em Portugal no ano de 2022, colocando o país em 34.º lugar entre 45 jurisdições analisadas. Este valor, embora distante de países como a Irlanda (87%), é comparável ao de Espanha (32%).

A organização nota que persiste uma discrepância entre os locais onde os lucros são declarados e onde a atividade económica realmente ocorre, com os lucros por trabalhador a serem substancialmente mais elevados em centros de investimento, como paraísos fiscais. Em contraponto a esta contribuição, um relatório da Tax Justice Network estima que Portugal perde 1,045 mil milhões de euros por ano — o equivalente a 2,9 milhões de euros por dia — devido à fuga aos impostos por parte de multinacionais que desviam os seus lucros para jurisdições com tributação mais favorável.

Esta perda anual corresponde a 8,8% da despesa total em saúde e a 2% da receita fiscal do país.

A organização argumenta que esta prática resulta numa maior carga fiscal sobre as pequenas e médias empresas e os trabalhadores por conta de outrem. Para mitigar este fenómeno, Portugal aplica uma taxa de 15% sobre os lucros de multinacionais com vendas superiores a 750 milhões de euros, em linha com um acordo internacional.