As investigações em curso apontam para prejuízos que podem atingir os mil milhões de euros, revelando vulnerabilidades sistémicas e a forte presença do crime organizado transnacional no país. A procuradora-geral europeia, Laura Kovesi, afirmou que “o número de casos explodiu em Portugal”, com a delegação nacional a investigar atualmente 60 processos que representam um prejuízo estimado em 868 milhões de euros. Kovesi sublinhou que “não há um país limpo em termos de fraude com fundos europeus” e destacou a atuação de grupos de crime organizado, nomeadamente chineses e russos, especializados em fraudes ao IVA e branqueamento de capitais. O procurador europeu de Portugal, José Ranito, reforçou esta preocupação, apontando a “fragilidade” dos portos portugueses como uma porta de entrada para estas redes criminosas, que não se limitam ao tráfico de droga, mas operam também em crimes aduaneiros e financeiros. Ranito descreve o crime financeiro como de “muito mais difícil identificação”, pois opera através de “empresas de fachada, com bons contabilistas, boas demonstrações financeiras, que entram e saem do sistema fiscal, num ápice e não são detetadas”. Ambos os procuradores salientaram a necessidade de reforçar os meios de investigação em Portugal. José Ranito lamentou que o país tenha apenas dois processos concluídos com acusação desde 2021, um número manifestamente inferior a países de dimensão semelhante, e defendeu a criação de equipas de polícias dedicadas a trabalhar diretamente com a EPPO, para evitar a competição por recursos com as investigações nacionais.