Esta decisão representa um momento crucial no debate sobre a jurisdição em crimes de cibersegurança e a proteção de arguidos com vulnerabilidades de saúde mental. Diogo Santos Coelho, de 25 anos, é acusado pelas autoridades norte-americanas de fundar e gerir o RaidForums, um dos maiores fóruns mundiais para a venda de dados roubados, ativo entre 2015 e 2022.

O jovem, conhecido como "Omnipotent", teria iniciado a sua atividade criminosa aos 15 anos, acumulando lucros que lhe permitiram adquirir uma moradia de luxo em Famalicão por 234 mil euros e um automóvel Tesla aos 18 anos. Nos EUA, enfrenta acusações de fraude informática, roubo de identidade e conspiração, arriscando uma pena de até 52 anos de prisão. Contudo, o High Court de Londres anulou a autorização de extradição, argumentando que o anterior ministro do Interior, James Cleverly, não ponderou devidamente fatores cruciais. O juiz Linden destacou que a decisão ministerial deveria ter considerado a "proximidade de Coelho com a família e amigos", a sua ligação com o sistema jurídico português e os seus direitos relativos à saúde mental, visto que foi "diagnosticado com autismo", apresenta "outros problemas de saúde mental" e foi considerado "vítima de escravatura moderna", tendo sido "aliciado por adultos online desde os 14 anos".

O risco "muito elevado de suicídio" caso fosse detido numa prisão norte-americana foi um fator determinante. A nova ministra do Interior, Shabana Mahmood, terá de reavaliar o caso, considerando também o pedido de extradição concorrente de Portugal, que reivindica jurisdição por ser o país de origem do arguido.

O próprio Coelho reagiu à decisão, afirmando: "A minha posição sempre foi clara e nunca mudou: concordei com a extradição para Portugal, o meu país natal, e estou totalmente preparado para enfrentar o sistema judicial lá."