O processo-crime contra o juiz de instrução criminal teve início em 2021, meses antes de Ivo Rosa proferir a sua decisão instrutória na "Operação Marquês", na qual deixou cair a maioria dos crimes imputados pelo Ministério Público (MP).

A investigação foi despoletada por uma denúncia anónima com "descritas inconsistências", segundo o próprio procurador-geral adjunto, mas ainda assim motivou a abertura de um inquérito por suspeitas de corrupção, peculato e branqueamento de capitais. Durante três anos, o magistrado foi alvo de medidas intrusivas, incluindo vigilâncias por parte da Polícia Judiciária, quebra de sigilos bancário e fiscal, e acesso à faturação detalhada e localização do seu telemóvel. O processo acabaria por ser arquivado em março do ano passado, por falta de qualquer indício de crime.

O próprio juiz, que só teve conhecimento da investigação através da comunicação social, considerou que a forma como o processo foi conduzido "implica uma grave intromissão e uma ameaça à independência, à responsabilidade dos juízes, ao Estado de Direito e à democracia".

A notícia gerou reações contundentes de várias figuras do setor da justiça. O advogado António Garcia Pereira classificou o caso como "um atentado aos princípios fundamentais do Estado de direito", enquanto o Manifesto dos 50 e a Associação Sindical dos Juízes Portugueses exigiram esclarecimentos à Procuradoria-Geral da República, manifestando preocupação com o que consideram uma tentativa de condicionamento do poder judicial.