A investigação preliminar teve início em fevereiro, depois de terem sido identificadas no documento judicial "expressões invulgares", um "português pouco cuidado" e, mais criticamente, citações de artigos de lei e jurisprudência inexistentes. Estas "alucinações", um problema conhecido dos modelos de linguagem de IA, levantaram a suspeita de que partes do acórdão não foram redigidas pelo magistrado, mas sim geradas por um programa informático.

O processo em causa estava relacionado com a Santa Casa da Misericórdia e envolvia três juízes, mas as acusações centram-se num dos desembargadores. A abertura de um processo disciplinar pelo CSM, o órgão de gestão e disciplina dos juízes, indica a gravidade com que a situação está a ser tratada.

O caso força o sistema de justiça a confrontar-se com os desafios éticos e práticos da integração da IA na prática jurídica, nomeadamente a fiabilidade das fontes, a responsabilidade pela decisão e a manutenção da integridade do processo judicial. O CSM confirmou a instauração do processo, mas escusou-se a prestar mais informações, invocando o caráter sigiloso da matéria disciplinar.