O Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa (TACL) enfrenta uma sobrecarga sem precedentes, com mais de 133 mil processos pendentes contra a Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA). Este volume massivo de litígios, que cresceu exponencialmente nos últimos meses, ameaça paralisar a justiça administrativa e levanta sérias questões sobre a capacidade de resposta do Estado em matéria de imigração. A esmagadora maioria dos processos são "intimações para defesa de direitos, liberdades e garantias", apresentadas por cidadãos estrangeiros que aguardam pela regularização da sua situação, nomeadamente para a marcação de entrevistas na AIMA. Segundo dados do Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais (CSTAF), a média de entrada de novos casos no TACL ronda os 500 por dia. Este número representa um aumento drástico, visto que em junho o número de pendências era de cerca de 50 mil.
O TACL é o único tribunal com competência territorial para estes pedidos, e atualmente tem apenas seis dos seus 35 juízes dedicados exclusivamente a estes processos. A Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP) já alertou o Governo para o "perigo real" que estas falhas e "processos artificiais" com origem na AIMA representam, rejeitando responsabilidades pelas "disfunções" do Estado.
A ASJP sublinhou os "efeitos devastadores" desta acumulação, que provoca atrasos generalizados em processos de grande relevância social e económica noutras áreas, como urbanismo e contratação pública, e degrada a "perceção de ineficiência da justiça".
Em resumoA acumulação de mais de 133 mil processos contra a AIMA no Tribunal Administrativo de Lisboa evidencia uma crise na justiça administrativa, causada pela incapacidade da agência de migrações em dar resposta atempada aos pedidos. A situação sobrecarrega o sistema judicial e compromete o acesso à justiça para milhares de imigrantes e em outras áreas da administração pública.