No entanto, este número representa apenas uma fração da realidade.

Daniel Cotrim, psicólogo e assessor da direção da APAV, estima que "por cada uma destas vítimas apoiadas (...) há sempre pelo menos duas pessoas, dois homens, que não vão denunciar a situação".

Isto sugere que o número real de vítimas masculinas poderia ultrapassar as 30.700 no mesmo período.

A principal razão para este silêncio reside na "ideia profundamente estereotipada" de que a vitimação está associada à fragilidade e é um fenómeno predominantemente feminino. Cotrim salienta que "os homens são tão vulneráveis a situações de vitimação como as mulheres, portanto não é uma questão de género". A vergonha e o medo do julgamento, enraizados em noções de masculinidade tóxica, impedem muitos homens de se reconhecerem como vítimas e de procurarem as autoridades, que, segundo o psicólogo, por vezes não são "condescendentes com os homens" e têm "muitos preconceitos à mistura". A violência doméstica é o crime mais reportado, com 11.906 ocorrências, o que explica a natureza continuada da violência (36,6% dos casos) e a demora em denunciar, que pode levar mais de uma década.

Para o futuro, Daniel Cotrim defende um investimento contínuo na educação para a igualdade de género e na desconstrução de mitos sobre a masculinidade, para que a sociedade encare "a figura masculina como vítima e olhe para isto de forma perfeitamente natural".