Este fenómeno, largamente invisível, expõe uma complexa dinâmica de violência no seio familiar, marcada pela vergonha e pelo medo.

Entre 2022 e 2024, a APAV apoiou uma média de 2,6 progenitores por dia, um número que tem crescido anualmente. Cynthia Silva, criminóloga na APAV, considera que o aumento “pode significar que há mais vítimas a procurarem o apoio da APAV”, o que seria um “aspeto positivo”.

Contudo, a especialista alerta para a elevada cifra negra, sublinhando que “em 48% das situações não há apresentação de queixa”.

Este silêncio é atribuído a múltiplos fatores.

A vergonha e a culpa são barreiras significativas, como aponta Cynthia Silva: “Os motivos mais comuns para a não procura de apoio ou mesmo para a falta de queixa têm muito a ver com estas questões da vergonha, da culpa, a vergonha de dizer que estão a ser vitimadas ou vitimados pelos próprios filhos ou filhas”. Acresce o medo de retaliações ou das consequências legais para os agressores, levando os pais a querer “proteger as próprias pessoas infratoras”. O perfil traçado pela APAV mostra que a maioria das vítimas são mulheres (79,7%), com 65 anos ou mais (58,3%), enquanto os agressores são maioritariamente homens (69%), com idades entre os 18 e os 64 anos.

A esmagadora maioria dos crimes (82,3%) enquadra-se no crime público de violência doméstica, o que permitiria à APAV apresentar queixa, embora a associação privilegie que a iniciativa parta da vítima.