O caso coloca em foco a atuação policial em bairros socialmente vulneráveis e as tensões raciais, num debate que transcende a sala de audiências.

Na primeira sessão, o agente da PSP declarou ter agido em legítima defesa, afirmando que disparou após ver Odair Moniz empunhar uma faca. Segundo o seu relato, após uma breve perseguição de carro que terminou com o embate da viatura de Odair, este resistiu à detenção e, num ambiente escuro e de elevado stresse, o agente viu-o com “aquela atitude astuta e passivo-agressiva” e uma lâmina na mão.

Contudo, na segunda sessão do julgamento, esta versão foi frontalmente contrariada por duas testemunhas, um amigo e o sobrinho da vítima, que estavam no local. Ambos garantiram em tribunal que Odair Moniz não tinha qualquer objeto ou faca na mão no momento em que foi baleado.

Uma das testemunhas foi mesmo confrontada pela juíza devido a contradições no seu depoimento.

Uma crónica de opinião publicada num dos artigos analisa o caso como mais um episódio de uma “dança antiga”, onde o medo e a desconfiança mútua entre a polícia e os residentes de bairros racializados e marginalizados criam um ciclo de confronto. Segundo esta perspetiva, o agente não viu um homem, mas um “suspeito”, e a vítima não viu um agente, mas “um bófia”, resultando num desfecho trágico que reflete um problema estrutural de racismo e preconceito.