A descoberta, que encontrou vestígios do vírus no revestimento protetor do cérebro, sugere que o tratamento de infeções por VHC com antivirais poderá aliviar sintomas psiquiátricos num subconjunto de doentes. O estudo, publicado na revista Translational Psychiatry, analisou amostras de cérebro post-mortem e encontrou sequências virais de VHC no plexo coroide — uma estrutura que produz o líquido cefalorraquidiano e protege o cérebro — de doentes diagnosticados com esquizofrenia e perturbação bipolar, mas não no grupo de controlo. Esta associação foi corroborada por uma análise a uma vasta base de dados de saúde com 285 milhões de doentes, que revelou que a prevalência de VHC era sete vezes superior em pessoas com estes diagnósticos psiquiátricos.
Embora o vírus não tenha sido encontrado diretamente no tecido cerebral, como o hipocampo, os investigadores notaram que a sua presença no revestimento estava associada a uma expressão genética alterada nessa região, sugerindo que o VHC pode exercer a sua influência à distância.
Segundo o neurocientista Sarven Sabunciyan, da Johns Hopkins, estas descobertas abrem a porta a uma nova abordagem terapêutica: “é possível que algumas pessoas tenham sintomas psiquiátricos porque têm uma infeção e, como a infeção por hepatite C é tratável, pode ser possível que esse subconjunto de doentes seja tratado com medicamentos antivirais e não precise de lidar com sintomas psiquiátricos”. Com tratamentos para a hepatite C a atingirem taxas de cura superiores a 97%, esta investigação pode revolucionar a forma como se encaram certas doenças mentais, passando de uma condição puramente psiquiátrica para uma com uma componente infeciosa tratável.