Esta descoberta, publicada na revista *Nature*, estabelece uma ligação preocupante entre doenças infecciosas e a recorrência de cancro, abrindo novas vias para a prevenção de metástases.
O estudo, conduzido em ratos e corroborado com dados de saúde de humanos, demonstrou que a inflamação causada por estas infeções virais pode despertar células cancerígenas metastáticas que tinham permanecido inativas.
O investigador James DeGregori, da Universidade do Colorado, descreveu o fenómeno de forma metafórica: "As células cancerígenas inativas são como as brasas deixadas numa fogueira abandonada, e os vírus respiratórios são como um vento forte a reacender as chamas".
A análise molecular identificou a interleucina-6 (IL-6), uma proteína libertada pelas células imunitárias em resposta à infeção, como o principal mediador deste processo de reativação. Esta descoberta sugere que o uso de tratamentos que visam esta proteína, como "inibidores da IL-6 ou outras imunoterapias dirigidas", poderá ser uma estratégia eficaz para "prevenir ou reduzir o ressurgimento de metástases após uma infeção viral", conforme explicou o codiretor do estudo, Julio Aguirre-Ghiso.
Para validar a hipótese em humanos, a equipa analisou duas grandes bases de dados, o UK Biobank e o Flatiron Health.
Os resultados mostraram uma correlação significativa: no grupo do UK Biobank, doentes oncológicos que testaram positivo para o SARS-CoV-2 apresentaram o dobro das mortes relacionadas com cancro. No grupo do Flatiron Health, a infeção foi associada a um risco 40% superior de desenvolvimento de metástases pulmonares em doentes com cancro da mama. Os cientistas concluem que estas descobertas reforçam a importância da prevenção de infeções respiratórias em doentes oncológicos, incluindo a vacinação.