O Governo prepara-se para mobilizar por despacho a equipa de obstetrícia do Hospital do Barreiro para assegurar as escalas na urgência do Hospital Garcia de Orta, em Almada. A medida, justificada pela necessidade de garantir uma urgência regional, gerou forte contestação por parte de sindicatos, da Ordem dos Médicos e de autarcas socialistas. A ministra da Saúde, Ana Paula Martins, anunciou a intenção de concentrar as urgências de ginecologia e obstetrícia da margem sul no Hospital Garcia de Orta, o que implicará a transferência forçada de profissionais do Hospital do Barreiro. A decisão, que segundo o Ministério da Saúde não exige negociação sindical, foi justificada pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, como uma medida necessária para garantir a resposta do Serviço Nacional de Saúde (SNS), afirmando: “Nós não estamos preocupados com a popularidade das decisões, mas com o efeito e as consequências que elas têm”.
A reação foi imediata e contundente.
O Bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, considerou a decisão “absolutamente lamentável”, alertando que “tudo aquilo que é feito à força, posso-lhe garantir, não vai correr bem”.
Os sindicatos médicos também condenaram a “mobilidade forçada”, argumentando que só seria possível em regime de voluntariado e que a medida pode levar a mais saídas de médicos do SNS, como já aconteceu no passado em situações semelhantes no Hospital de Santa Maria. A nível político, o PS de Setúbal manifestou a sua “mais profunda oposição e repúdio”, defendendo o reforço de todas as unidades existentes em vez do seu encerramento parcial.
O autarca do Barreiro, Frederico Rosa, criticou a ministra pelo “contacto zero” com as autarquias.
Em resumoA decisão do Governo de avançar com a mobilização forçada de médicos na Península de Setúbal evidencia um ponto crítico na gestão do SNS, colocando o executivo em rota de colisão com profissionais de saúde e poder local. A medida, embora justificada com o interesse público, arrisca agravar a desmotivação dos médicos e aprofundar a crise de recursos humanos no setor.