Esta dinâmica desafia a hegemonia dos partidos tradicionais e reflete um crescente descontentamento com as estruturas partidárias.

A Comissão Nacional de Eleições (CNE) confirmou a existência de 91 listas de grupos de cidadãos a concorrer às câmaras municipais, um número sem precedentes que, apesar de revisto em baixa face aos dados provisórios, supera o de 2021. Muitos destes movimentos são liderados por dissidentes de partidos tradicionais, com o PS a enfrentar mais de 85 candidaturas independentes saídas das suas fileiras, resultando em processos de expulsão como o do antigo candidato à liderança Daniel Adrião.

Em Ílhavo, o atual presidente, João Campolargo, eleito pelo movimento independente UPF, procura a reeleição após ter quebrado 24 anos de poder do PSD. Em Vila do Bispo, os principais candidatos do PS e do PSD integraram nas suas listas vereadores eleitos em 2021 pelo movimento independente "Somos pelo Concelho", numa tentativa de absorver essa força política. Noutros casos, a mudança é entre partidos, como em Alvito, onde um ex-presidente de junta do PCP e um do PS se unem num movimento "independente" apoiado pelo PSD para desafiar o atual presidente socialista.

Esta fragmentação e realinhamento de forças indicam uma volatilidade crescente no poder local, onde as lealdades partidárias parecem estar a ser suplantadas por projetos personalistas ou de base cívica, alterando profundamente o mapa político autárquico.