A sua saída, comunicada numa carta aos militantes, ocorre num momento de sucessivas derrotas eleitorais e abre um período de incerteza sobre o futuro do BE na próxima convenção nacional. A decisão de Mortágua surge na sequência de um balanço autocrítico do seu mandato de dois anos e meio, iniciado em maio de 2023. Na sua comunicação, a coordenadora cessante admite que o objetivo de "encontrar outros caminhos" para a esquerda após o colapso da maioria absoluta do PS "não foi cumprido". Mortágua reconhece que, sob a sua liderança, "continuou a redução do espaço eleitoral do Bloco" e que a renovação interna "não se revelou suficiente para relançar a nossa intervenção social".

A sucessão de maus resultados eleitorais é um fator central nesta decisão, com o partido a sofrer o pior resultado de sempre nas legislativas de maio, elegendo apenas uma deputada — a própria Mortágua —, e a registar um desempenho "modesto" nas autárquicas de 12 de outubro. A líder bloquista aponta ainda que "a precipitação de sucessivas campanhas eleitorais tirou espaço e tempo à reflexão interna" e que a direção foi "incapaz de inverter a excessiva centralização da estrutura do Bloco e gerar um novo impulso político e eleitoral". Apesar de reconhecer as "empenhadas campanhas de ódio dos nossos adversários", Mortágua conclui que a direção "não conseguiu neutralizá-las".

Comentadores políticos enquadram esta saída numa "crise mais geral da esquerda que, neste momento, é minoritária no país", sublinhando a dificuldade do BE em se afirmar no novo ciclo político.

A demissão abre agora o debate sobre a sucessão na liderança do partido, que será decidida na XIV Convenção Nacional, agendada para o início de novembro.