A sessão solene comemorativa dos 50 anos do 25 de Novembro de 1975 no Parlamento tornou-se palco de uma acesa batalha simbólica e discursiva, expondo a profunda clivagem ideológica que persiste na política portuguesa sobre o legado do Processo Revolucionário em Curso (PREC). A cerimónia, promovida pela direita e criticada pela esquerda, ficou marcada por uma "guerra de flores": deputados do PAN, Bloco de Esquerda e Livre colocaram cravos vermelhos, símbolo do 25 de Abril, junto ao arranjo de rosas brancas da mesa da Assembleia, levando o líder do Chega, André Ventura, a retirá-los, afirmando que "hoje é dia de rosas brancas e não de cravos". Posteriormente, um deputado do PSD recolocou-os, defendendo que o dia "é de todos".
Esta disputa simbólica refletiu-se nos discursos.
A direita, através de figuras como Aguiar-Branco, defendeu que "Abril abriu a porta da liberdade e Novembro garantiu que tivesse chão firme para caminhar". A esquerda, por sua vez, criticou o que o PS chamou de "apropriação mistificadora" e "tentação revisionista", com o PCP a ausentar-se e a classificar o evento como um "desfile de mentiras". No seu último discurso no Parlamento, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa apelou à "temperança", reconhecendo a existência de uma "batalha cultural" em torno da data, mas sublinhando que "a pátria ganhou certamente" com o desfecho de 1975.
Em resumoAs comemorações do 25 de Novembro evidenciaram uma polarização crescente na interpretação da história recente de Portugal. A cerimónia no Parlamento, em vez de um momento de união, transformou-se numa arena de confronto ideológico, espelhando as tensões do atual quadro político nacional.