O estudo “A Voz dos Professores”, realizado antes da recente proibição governamental de telemóveis nos 1.º e 2.º ciclos, já mostrava que as escolas privadas eram mais restritivas: 89% dos colégios do 1.º ciclo já não permitiam o seu uso, em comparação com 59% das escolas públicas. Embora as novas tecnologias ofereçam oportunidades, como o recurso à gamificação e à Inteligência Artificial para preparar aulas — práticas mais comuns no privado e entre docentes mais novos —, os professores queixam-se da falta de apoio técnico, de equipamentos e de acesso a uma rede de internet de qualidade. O estudo alerta para “assimetrias que podem acentuar desigualdades entre alunos”, dado que o nível de proficiência digital é desigual entre os docentes.

Para além da tecnologia, os professores enfrentam desafios sociais complexos.

O inquérito revela que “nove em cada 10 professores têm pelo menos um aluno com NEE” (Necessidades Educativas Especiais), havendo um pedido generalizado por mais recursos humanos especializados e materiais adaptados. A crescente presença de alunos estrangeiros que não falam português, o absentismo escolar, a violência (um em cada três professores relatou situações) e até a má nutrição dos alunos (um em cada dez “enfrentou a realidade de má nutrição de alunos”) são outras realidades que marcam o dia a dia da profissão, exigindo uma resposta que vai muito para além da componente puramente letiva.