A situação, particularmente grave na Área Metropolitana de Lisboa e no Algarve, obriga as escolas a adotar soluções de recurso que comprometem a qualidade da aprendizagem dos mais novos. A carência de docentes qualificados para o 1.º ciclo tornou-se um dos problemas mais visíveis do sistema educativo português, refletindo uma crise estrutural na atratividade e retenção na carreira docente.

Segundo estimativas da Fenprof, o défice afeta pelo menos 133 turmas, deixando mais de 3.300 crianças sem professor titular.

As regiões de Lisboa, Setúbal e Faro são apontadas como as mais problemáticas. O problema reside na falta de candidatos com a habilitação profissional exigida para lecionar neste nível de ensino, ou na desistência dos que são colocados, o que agrava as condições de trabalho nas escolas. Para mitigar o problema, as direções escolares recorrem a medidas extremas, como a distribuição de alunos por outras turmas, por vezes de anos mais avançados.

Um dos casos reportados menciona uma aluna de seis anos, que deveria estar a iniciar a aprendizagem da leitura e escrita, a ser colocada numa sala do 4.º ano.

Esta solução não só perturba a dinâmica das turmas de acolhimento, sobrecarregando os respetivos professores, como também prejudica gravemente o percurso pedagógico dos alunos afetados.

A situação gera enorme preocupação junto dos encarregados de educação, que veem o direito à educação dos seus filhos ser comprometido.

A crise de recursos humanos contrasta com o discurso governamental focado em tecnologia, como a promessa de “tutores digitais” baseados em Inteligência Artificial, o que leva movimentos como a “Missão Escola Pública” a criticar a aparente desconexão entre as prioridades políticas e as necessidades básicas e urgentes do terreno.