Este gesto simbólico sublinha a urgência de se debater e resolver os problemas que afetam a educação em Portugal. O gesto do cardeal Tolentino de Mendonça de partilhar o prestigiado Prémio Eduardo Lourenço com a “classe dos professores em crise” transcendeu o ato simbólico, funcionando como uma poderosa intervenção no debate público sobre o estado da educação em Portugal. Ao dedicar o prémio aos docentes, uma figura de proa da cultura e da Igreja Católica validou e deu visibilidade nacional à profunda crise de valorização e às difíceis condições de trabalho que afetam a profissão.

As suas palavras durante o discurso de aceitação foram particularmente contundentes, ao afirmar que “a irrelevância dos professores é um alarme para as sociedades”.

Com esta declaração, Mendonça elevou a questão para além das reivindicações laborais ou sindicais, enquadrando-a como um pilar fundamental para a saúde cívica e democrática do país.

A sua advertência de que “quando o investimento em educação não se realiza, é a qualificação da cidadania que diminui” estabelece uma ligação direta entre o desinvestimento nos professores e a degradação do tecido social. Este reconhecimento, vindo de uma personalidade exterior ao mundo sindical e político da educação, tem o potencial de sensibilizar uma audiência mais vasta e de pressionar os decisores políticos a olharem para a crise docente não como um problema corporativo, mas como uma emergência nacional. O ato de partilha do prémio funciona como um apelo à consciência coletiva para a necessidade urgente de dignificar a carreira docente, reconhecendo o seu papel insubstituível na formação das futuras gerações e na sustentabilidade do próprio país.