A corporação de bombeiros da Moita assistiu ao seu 14.º parto numa ambulância este ano, um número invulgar que evidencia as pressões sobre os serviços de obstetrícia na Península de Setúbal. O nascimento ocorreu a caminho do Hospital de Almada, pois a urgência do hospital de referência, no Barreiro, encontrava-se encerrada. O parto ocorreu na manhã de domingo, no IC21, antes das portagens, quando a ambulância transportava uma grávida de 39 semanas. Com a urgência de obstetrícia do Hospital Nossa Senhora do Rosário, no Barreiro, fechada, a equipa foi forçada a dirigir-se ao Hospital Garcia de Orta, em Almada, o único com este serviço a funcionar na Península de Setúbal nesse dia. O bebé acabou por nascer durante o trajeto, com o apoio dos bombeiros e da Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) do Barreiro.
Tanto a mãe como o bebé foram transportados para o hospital e encontram-se bem.
O comandante dos bombeiros da Moita, Pedro Ferreira, salientou que esta “é uma situação cada vez mais normal”, um sentimento ecoado por Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP, que ironicamente sugeriu que “o Presidente da República devia condecorar os bombeiros da Moita”.
O fenómeno dos partos extra-hospitalares tem vindo a aumentar, com a Ministra da Saúde, Ana Paula Martins, a referir recentemente que já se registaram cerca de 150 casos este ano em todo o país.
A Península de Setúbal é a zona mais crítica devido à falta de profissionais para completar as escalas, levando o Governo a planear a criação de uma urgência regional de obstetrícia para mitigar o problema.
Em resumoO 14.º parto assistido pelos bombeiros da Moita numa ambulância este ano evidencia uma crise bizarra e preocupante no acesso a cuidados de obstetrícia na Península de Setúbal. O encerramento frequente de urgências hospitalares está a transformar os bombeiros em parteiros de emergência, destacando uma falha sistémica na prestação de cuidados de saúde essenciais.