O caso expõe falhas nos regulamentos internacionais e levanta sérias questões éticas e de saúde pública.
O dador, identificado pelo pseudónimo "Kjeld" ou "Dador 7069", é portador de uma mutação no gene TP53, associada à síndrome de Li-Fraumeni, que predispõe ao desenvolvimento de múltiplos tipos de cancro desde tenra idade. O European Sperm Bank (ESB), um dos maiores bancos de sémen do mundo, foi notificado pela primeira vez em abril de 2020, quando uma criança concebida com o esperma do dador foi diagnosticada com cancro e apresentava a mutação. Contudo, após um teste inicial não ter revelado a anomalia no dador, a venda do seu esperma foi retomada.
Só em 2023, após uma segunda notificação, é que testes mais aprofundados confirmaram que o dador era um "portador saudável" da mutação, presente apenas numa pequena fração dos seus espermatozoides, uma condição rara conhecida como mosaicismo.
O seu esperma foi então bloqueado em outubro de 2023. A investigação, conduzida por um consórcio de emissoras públicas europeias, revelou que o esperma foi vendido a 67 clínicas em 14 países entre 2006 e 2022. O caso evidencia a falta de regulamentação internacional, pois, embora muitos países limitem o número de filhos por dador (12 na Dinamarca, 10 em França), não existem mecanismos transfronteiriços eficazes para controlar o número total de nascimentos. O ESB admitiu que "os limites foram ultrapassados em alguns países", atribuindo a falha a "informação inadequada das clínicas, a sistemas não robustos e ao turismo de fertilidade". A rede médica europeia Genturis alertou que algumas das crianças que herdaram a mutação "já morreram" de cancro em idade precoce.













