As descobertas, analisadas pelo instituto NGO Monitor, sugerem que o grupo monitorizava e instrumentalizava a ajuda humanitária para os seus próprios fins.

Os ficheiros, datados entre 2018 e 2022, mostram como a unidade especial do Ministério do Interior do Hamas, o Interior Security Mechanism (ISM), controlava os projetos das ONG.

O Hamas exigia a nomeação de “garantes”, cidadãos locais que serviam de intermediários e que frequentemente ocupavam cargos de direção nas próprias organizações.

Um documento descreve um “garante” da ONG italiana Cesvi, financiada pela UE, como um “afiliado ao Hamas”.

A vigilância era minuciosa, abrangendo desde as convicções políticas e religiosas dos indivíduos até à sua atividade na internet.

Os documentos indicam que estes intermediários podiam ser “explorados para fins de segurança”.

Noutros casos, a interferência era direta: a International Medical Corps (IMC), também financiada pela UE, teve os seus escritórios temporariamente encerrados por se recusar a entregar relatórios financeiros ao Hamas, e o seu diretor administrativo local foi identificado como um capitão do grupo.

A instrumentalização ia mais longe, com o Hamas a tirar proveito de projetos para fins militares. Um memorando de 2021 refere um projeto de irrigação da Oxfam, financiado pela UE, numa “área fronteiriça, sensível para a segurança”, notando que as árvores de fruto “são conhecidas por servirem de cobertura para atividades de resistência”.

Segundo Olga Deutsch, do NGO Monitor, os documentos “provam pela primeira vez a infiltração e o controlo exercidos pelo Hamas sobre o ecossistema humanitário”.