A sua intervenção desmistificou crenças comuns e apontou a transformação da paisagem nacional como o principal fator para a elevada inflamabilidade do território.

Amaral destacou um dado alarmante: “Portugal é o país do Mundo, entre os de clima temperado, que mais arde em percentagem do território”.

Segundo o investigador, este fenómeno não se deve apenas às ignições, mas sim à acumulação excessiva de combustível vegetal. “Se não retirarmos combustível, 2% das ignições de incêndios fazem mais de 90% da área ardida”, explicou, sublinhando que a prevenção através da gestão da floresta é mais crucial do que o combate direto.

A análise retrocedeu à década de 1960, identificando a mudança socioeconómica como um ponto de viragem. “Desde a década de 1960, não soubemos fazer uma retirada estratégica de um ecossistema baseado numa economia agro-pastorícia”, afirmou, referindo-se ao abandono do campo que levou ao fim da limpeza natural dos terrenos pelo pastoreio e pela agricultura de subsistência.

Esta transformação profunda criou um cenário onde a vegetação se acumula sem controlo, tornando o país vulnerável a megaincêndios, mesmo com poucas ignições.

A participação de Amaral no podcast ofereceu uma perspetiva científica e histórica sobre um dos problemas mais graves de Portugal, focando nas causas estruturais em vez de procurar culpados imediatos.