Na sua conversa com Gustavo Carvalho, Marco Mendonça, recentemente distinguido com o Prémio Revelação pelo Teatro Nacional D. Maria II, explorou as raízes e as manifestações contemporâneas do racismo.

Nascido em Moçambique, o ator utiliza a sua experiência e o seu trabalho artístico, nomeadamente as peças "Blackface" e "Reparations, Baby!

", para desconstruir preconceitos.

Argumentou que o humor pode ser uma ferramenta poderosa para abordar "trauma, sofrimento e crises de identidade". Sobre a prática de "blackface", Mendonça foi categórico: “Os casos de blackface hoje em dia são igualmente graves, parte do mesmo sítio de silenciamento e invisibilização de uma fatia da sociedade”.

A sua análise estendeu-se à política internacional, criticando a superficialidade com que o racismo foi tratado após a eleição de Barack Obama nos EUA, afirmando que alguns sentiram que podiam “fazer blackface outra vez”, e sublinhando: “Podem gozar com o presidente, mas que não seja pela cor da pele”.

A intervenção mais contundente focou-se na relação de Portugal com o seu passado colonial. Para Mendonça, a superação do racismo estrutural exige um exercício coletivo de introspeção, declarando que “a primeira forma de reparação histórica é Portugal decidir que tem urgentemente de fazer terapia, reconhecer que o seu passado é horrível”. Esta abordagem, num podcast de humor, demonstra a versatilidade do formato para veicular mensagens profundas, alcançando públicos que talvez não procurassem ativamente este tipo de debate em formatos mais tradicionais.