Vários artigos de opinião convergem numa análise agridoce.

O termo "melancolia" é usado para descrever o sentimento do próprio Presidente, que, segundo alguns autores, sente que os seus dez anos em Belém foram, em boa medida, um fracasso no que toca a reformas de fundo. A sua caracterização como "cripto-populista 'aquém do sonhado'" sugere que o seu estilo único de presidência, baseado na proximidade e na comunicação direta, não se traduziu nas transformações sistémicas que o país necessita, e que, por isso, nenhum candidato se apressa a reclamar a sua herança.

Esta perceção é reforçada por análises mais factuais sobre o seu poder.

A sua queda no ranking dos mais poderosos de Portugal, elaborada pela Forbes, para o 10.º lugar, é sintomática. A justificação aponta para a perda de influência desde que Luís Montenegro se tornou primeiro-ministro e, de forma mais determinante, para a limitação constitucional de poderes nos últimos seis meses de mandato, que o impede de dissolver o Parlamento. Este debate sobre o legado de Marcelo é fundamental para a próxima eleição presidencial, pois define o contexto em que os candidatos terão de se apresentar: como continuadores de um estilo, como reformadores pragmáticos ou como uma rutura total com a década marcelista.