A sua reação crítica visou não só o erro em si, mas o estilo político que, na sua opinião, Ventura representa.

A intervenção de António Filipe foi direta e incisiva, servindo como um dos primeiros momentos de confronto direto entre candidatos presidenciais.

Numa publicação na rede social X, o ex-deputado comunista afirmou que, se Ventura for candidato, "os eleitores vão ter de decidir se querem ter como Presidente da República alguém que baseia a sua ação política na mentira, no ódio e na intolerância". A crítica culminou com a afirmação irónica de que Ventura é "alguém que tem dificuldade em distinguir um cidadão de um hambúrguer". Esta declaração tem um duplo objetivo estratégico.

Primeiro, posiciona António Filipe como um defensor da seriedade e da dignidade das instituições, em contraste com o que considera ser a postura populista e irresponsável do seu adversário.

Segundo, serve para mobilizar a sua própria base de apoio e o eleitorado de esquerda em geral, apresentando a sua candidatura como um bastião contra a extrema-direita. Ao focar a sua crítica não apenas no lapso, mas na essência da prática política de Ventura, Filipe tenta elevar o debate, alertando para os perigos que, na sua perspetiva, uma eventual presidência do líder do Chega representaria para a democracia portuguesa.

Este episódio ilustra como as controvérsias e os erros de campanha são rapidamente instrumentalizados pelos adversários para definir as suas próprias identidades e traçar linhas de demarcação claras perante o eleitorado.