Esta crítica, feita no prefácio de um livro do constitucionalista Vital Moreira, surge em plena pré-campanha e questiona a própria função do cargo a que os candidatos aspiram. A intervenção de Costa é de grande alcance, pois desloca o foco do debate das personalidades dos candidatos para a natureza do sistema semipresidencialista português. A sua tese central é que, em 50 anos de democracia, a eleição direta do Presidente serviu frequentemente para gerar confronto com os governos, especialmente nos segundos mandatos presidenciais. “Vinte e cinco governos e dez dissoluções da Assembleia da República em 50 anos confirmam que a legitimidade eleitoral reforçada do PR em nada contribuiu para a estabilidade”, escreve Costa.
Esta afirmação é particularmente relevante vinda de um primeiro-ministro cujo governo maioritário foi derrubado pela decisão do atual Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, de dissolver o parlamento.
Costa considera que a função presidencial deveria ser “essencialmente moderadora”, mas que, na prática, raramente o foi. O atual Presidente da República sentiu-se visado e respondeu, afirmando que a interpretação dada às palavras de Costa “não corresponde ao que está escrito” e que, no seu caso, sempre garantiu a sintonia institucional e a estabilidade. Este debate de alto nível sobre os poderes e o papel do Presidente da República fornece um contexto crucial para as eleições, desafiando os candidatos a refletirem não apenas sobre o que farão em Belém, mas também sobre como pretendem exercer os seus poderes num sistema que, segundo Costa, tem gerado instabilidade.














