A primeira fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior revelou uma quebra acentuada no número de estudantes colocados, atingindo o valor mais baixo desde 2016 e gerando alarme entre as associações académicas. A escalada dos preços do alojamento, especialmente em Lisboa e no Porto, é apontada como um dos principais fatores que transformam a educação superior num "privilégio" em vez de um instrumento de mobilidade social. Os dados indicam que foram colocados menos cerca de 6 mil alunos do que no ano anterior, uma diminuição que a Associação Académica de Coimbra (AAC) classificou como "nada teve de habitual".
A crise habitacional é um dos focos da preocupação.
Em Lisboa, o custo médio de um quarto para estudantes já ultrapassa os 500 euros, podendo chegar aos 700 euros, o que, segundo a Federação Académica de Lisboa, representa "mais de metade do salário mínimo". A situação é similar no Porto e, embora Coimbra ainda apresente preços mais baixos, a tendência é de subida e de "deterioração na quantidade" de oferta. As associações de estudantes alertam que o custo de vida está a afastar os jovens do ensino superior, especialmente os de famílias com menos recursos, invertendo a tendência de aumento do contingente prioritário registada em anos anteriores. A oferta de alojamento público continua a ser largamente insuficiente, com apenas 19 mil camas para mais de 100 mil estudantes deslocados em todo o país, o que agrava a dependência do mercado de arrendamento privado, onde os preços são proibitivos para muitas famílias.
Em resumoA diminuição de alunos no ensino superior, a par da crise no alojamento estudantil, acendeu o alerta sobre a crescente desigualdade no acesso à educação em Portugal. Com os custos a tornarem-se insustentáveis para muitos, as associações académicas exigem medidas urgentes para garantir que a universidade continue a ser um pilar de mobilidade social e não um exclusivo para quem pode pagar.