Esta perspetiva, defendida pelo economista português Ricardo Reis, argumenta que, num contexto de elevado endividamento público, os governos recorrem a estas políticas para extrair recursos dos detentores de dívida e aliviar as suas contas. Numa conferência do Fundo Monetário Internacional (FMI), Ricardo Reis, professor na London School of Economics, explicou que a repressão financeira consiste na faculdade de os Estados “extrair excedentes dos detentores da dívida, desvalorizar essa dívida inesperadamente e receber um desconto”. Em termos gerais, é “um imposto sobre os detentores da dívida”.
Segundo o economista, após quatro décadas de tréguas, este fenómeno está de regresso devido a uma combinação de fatores: elevados níveis de endividamento, desequilíbrios macroeconómicos globais, a disponibilidade de novos mecanismos financeiros e a recente subida da inflação. Neste quadro, as tarifas alfandegárias são um dos três principais instrumentos de repressão.
Atuando sobre os estrangeiros, permitem a um país “sustentar mais dívida externa com menores excedentes comerciais”. Juntamente com a inflação inesperada e os impostos diretos sobre o setor financeiro, as tarifas tornam-se “tentadoras para os decissores políticos que lutam para equilibrar o orçamento”. Esta análise coloca as atuais guerras comerciais, como a que opõe os EUA e a China, sob uma nova luz, interpretando-as não apenas como disputas comerciais, mas como estratégias macroeconómicas deliberadas para gerir o peso da dívida num cenário global complexo.













