A indústria automóvel europeia enfrenta uma crise prolongada devido à escassez de semicondutores, exacerbada por tensões geopolíticas entre a China e o Ocidente, que ameaçam paralisar linhas de produção e forçam uma reavaliação estratégica das cadeias de abastecimento. O caso da Nexperia, uma fabricante de chips neerlandesa controlada pela chinesa Wingtech, tornou-se o epicentro desta crise, com implicações diretas para grandes construtores como a Volkswagen e a Bosch. O conflito intensificou-se quando o governo neerlandês interveio na Nexperia para limitar a influência chinesa, levando Pequim a retaliar com um bloqueio às exportações de chips da principal fábrica da empresa na China. Esta medida gerou incerteza e obrigou a Bosch a implementar um regime de 'lay-off' na sua fábrica em Braga, que afetou 2.500 trabalhadores, devido à insuficiência de componentes eletrónicos.
Embora o 'lay-off' tenha sido posteriormente levantado após a suspensão da intervenção neerlandesa e a retoma do fornecimento, o episódio expôs a vulnerabilidade extrema da indústria europeia.
A Nexperia é responsável por mais de 20% do mercado de semicondutores para o setor automóvel, e a sua interrupção afetou gigantes como a Honda, BMW e o Grupo Volkswagen, que criaram equipas de crise para gerir a situação. A Associação Europeia de Fornecedores Automóveis (CLEPA) alertou que reconfigurar as cadeias de fornecimento para reduzir a dependência da China poderá demorar entre três a sete anos. O presidente da CLEPA, Matthias Zink, admitiu que substituir componentes chineses será "difícil durante décadas", sublinhando que a disputa pelos chips é um "risco estrutural" para a economia europeia.
Em resumoA crise de semicondutores, agravada pelo conflito em torno da Nexperia, demonstrou a fragilidade da cadeia de abastecimento automóvel europeia e a sua forte dependência da China. O impacto direto na produção e no emprego, como o 'lay-off' na Bosch em Braga, serve de alerta para a necessidade urgente de a Europa reforçar a sua autonomia estratégica. A indústria procura agora alternativas, mas a transição para uma cadeia de valor menos dependente de componentes chineses será um processo longo, complexo e dispendioso.