A crescente disseminação de 'deepfakes' tornou-se uma preocupação central para cidadãos e legisladores, levando a União Europeia a adotar medidas concretas para combater esta ameaça através de nova regulamentação. Os conteúdos manipulados por IA, que podem ser usados para desinformação, fraude ou assédio, são agora alvo de obrigações específicas no âmbito do Regulamento de IA (AI Act) e de outras diretivas. Um estudo recente do Alan Turing Institute revelou que mais de 90% dos adultos britânicos estão preocupados com a disseminação de 'deepfakes', um sentimento que reflete a crescente perceção dos riscos. Exemplos reais, como a fraude de 25 milhões de dólares contra a empresa Arup através de uma videochamada falsa, ou a difusão de imagens eróticas falsificadas de adolescentes em Badajoz, demonstram que a ameaça é real e imediata. Em resposta, o AI Act da UE introduziu uma definição jurídica de 'falsificações profundas' e estabeleceu obrigações de transparência.
Os sistemas de IA que geram ou manipulam tais conteúdos devem agora garantir que os resultados sejam claramente marcados como artificiais.
Além disso, a Diretiva relativa ao combate à violência contra as mulheres obriga os Estados-Membros a criminalizar a produção e partilha de 'deepfakes' sexuais sem consentimento, quando tal comportamento for suscetível de causar danos graves à vítima.
Alguns países estão a ir mais longe.
A Itália, por exemplo, já criou um novo tipo de crime no seu Código Penal que pune a divulgação ilícita de qualquer conteúdo gerado por IA que cause 'um dano injusto a uma pessoa', com penas de prisão de um a cinco anos.
Em Portugal, espera-se a transposição da diretiva europeia, mas existe um apelo para que o país adote uma abordagem mais ampla, à semelhança da italiana.
Em resumoPerante a sofisticação crescente dos 'deepfakes', a Europa está a construir um arsenal legislativo para mitigar os seus danos, focando-se na transparência, na responsabilização e na criminalização dos usos mais nocivos. A eficácia destas medidas dependerá da sua implementação rigorosa por parte das autoridades nacionais e da cooperação das plataformas tecnológicas.