A França enfrenta uma grave crise de governabilidade que ameaça a estabilidade política e económica não só do país, mas de toda a União Europeia. A provável queda do governo do primeiro-ministro François Bayrou, agendada para uma moção de confiança a 8 de setembro, devido à forte oposição a um plano de austeridade de 44 mil milhões de euros, coloca o Presidente Emmanuel Macron numa posição de extrema fragilidade, com implicações diretas para o bloco europeu. A crise, descrita pelo especialista em temas europeus Paulo Sande como um "caldeirão a ferver", deixa Macron com três cenários difíceis: nomear um terceiro primeiro-ministro em menos de um ano, dissolver a Assembleia Nacional e arriscar novas eleições que poderiam fortalecer os extremos, ou a sua própria demissão, uma exigência crescente da oposição.
A instabilidade já está a ter consequências económicas, com a Presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, a alertar que "a ocorrência de riscos políticos tem um impacto claro" na economia e nos mercados.
Analistas advertem para o risco de contágio.
Paulo Sande avisa que "a crise francesa, seja qual for a resposta no curto prazo (...) arrastará a Europa".
O impacto mais imediato seria na política externa comum.
Tiago André Lopes, professor de Relações Internacionais, é taxativo: "A primeira vítima parece-me evidente: Ucrânia".
A liderança ativa de Macron na "Coligação dos Dispostos" para apoiar Kiev seria fragilizada, e a instabilidade poderia "reenergizar os partidos populistas e os partidos extremistas em toda a Europa". A crise em França, um dos dois principais motores da UE, ocorre num momento crítico, em que a Europa necessita de coesão para enfrentar desafios como a guerra na Ucrânia e a reconfiguração da ordem global, tornando a situação em Paris um foco de grande preocupação para Bruxelas e outras capitais europeias.
Em resumoA profunda crise política em França, centrada na provável queda do governo de François Bayrou, representa uma ameaça significativa para a União Europeia. A instabilidade num dos seus Estados-membros mais influentes arrisca paralisar a tomada de decisões, enfraquecer a política externa comum, especialmente o apoio à Ucrânia, e gerar turbulência nos mercados financeiros do bloco.