A crise política em Paris, um pilar do projeto europeu, levanta preocupações sobre a governabilidade e o futuro da coesão no bloco.
As greves e manifestações massivas, que reuniram centenas de milhares de pessoas em todo o país, foram convocadas pelos sindicatos em oposição a um plano de cortes orçamentais de 44 mil milhões de euros para 2026. Este plano, inicialmente proposto pelo governo de François Bayrou, visava reduzir a dívida pública e cumprir as regras da UE em matéria de défice. A forte oposição parlamentar e social levou à queda do governo de Bayrou através de uma moção de confiança, expondo a fragilidade do executivo de Macron. O novo primeiro-ministro, Sébastien Lecornu, herdou a difícil tarefa de encontrar um compromisso que satisfaça as exigências de Bruxelas sem inflamar ainda mais a ira popular. Analistas apontam que a instabilidade em França, a segunda maior economia da zona euro, com uma dívida pública de cerca de 115% do PIB, representa um risco sistémico para o projeto europeu.
A "agonia" francesa, marcada pela ingovernabilidade e pela polarização política entre a extrema-esquerda e a extrema-direita, serve de exemplo dos perigos do distanciamento entre a classe política e os cidadãos, e da incapacidade de implementar reformas estruturais.
A situação em França é vista como um sintoma de uma fragilidade mais ampla na Europa, enredada num discurso de direitos mas com dificuldades em sustentar o seu modelo social e económico.