A situação expõe a fragilidade de uma das maiores economias da zona euro e a crescente dificuldade de governação no país. A crise, descrita por analistas como uma “profunda disfunção na vida política francesa”, tem raízes na ausência de uma maioria absoluta no parlamento desde as eleições de 2022, uma situação agravada pelas legislativas antecipadas de 2024.

A incapacidade de Sébastien Lecornu para formar um governo e negociar um orçamento para 2026, num contexto de forte fragmentação parlamentar, precipitou a sua queda, tornando-o o quinto primeiro-ministro a deixar o cargo em três anos. O Presidente Emmanuel Macron enfrenta agora um dilema, com opções limitadas que incluem a nomeação de um novo chefe de governo, a dissolução da Assembleia Nacional — uma aposta arriscada que poderia beneficiar a extrema-direita — ou a sua própria demissão, um cenário que tem rejeitado. A oposição, da extrema-direita de Marine Le Pen à esquerda radical de Jean-Luc Mélenchon, aproveitou o impasse para exigir um “regresso às urnas”. A crise teve um impacto imediato nos mercados financeiros: o principal índice da bolsa de Paris, o CAC 40, registou quedas acentuadas, e os juros da dívida pública francesa subiram, com o diferencial face à dívida alemã a atingir um pico desde 2012. Com uma dívida pública de 114% do PIB, a mais elevada da zona euro, e défices persistentes, a instabilidade política agrava a desconfiança dos investidores.

Analistas alertam que a França, ao tornar-se “ingovernável”, afeta “toda a União Europeia” e corre o risco de transformar um “choque político numa tempestade sistémica”.