A instabilidade gerada pela falta de uma maioria parlamentar clara ameaça a governabilidade do país e levanta preocupações sobre o futuro político da segunda maior economia da zona euro.

A turbulência política em França atingiu um novo pico com a demissão de Sébastien Lecornu apenas 27 dias após a sua nomeação, tornando-se o mandato mais curto da V República. A crise foi precipitada pela sua incapacidade de formar um governo com apoio parlamentar estável, culminando na insatisfação do partido conservador Republicanos, cujo líder, Bruno Retailleau, manifestou descontentamento com a composição do executivo, nomeadamente a nomeação de Bruno Le Maire para a Defesa.

A demissão ocorreu apenas 14 horas após o anúncio completo do seu elenco governativo.

Numa manobra para evitar a dissolução da Assembleia Nacional, o Presidente Emmanuel Macron incumbiu o próprio Lecornu de conduzir “negociações finais” durante 48 horas para encontrar uma “plataforma de ação e estabilidade”. Perante o fracasso em construir uma nova coligação, e com a extrema-direita de Marine Le Pen e a esquerda radical de Jean-Luc Mélenchon a exigirem eleições antecipadas ou a demissão do próprio Macron, o Presidente francês optou por reconduzir Lecornu. Na rede social X, Lecornu afirmou aceitar a missão “por dever”, com o objetivo de dotar a França de um orçamento e resolver os problemas quotidianos. Contudo, esta solução não resolve o impasse fundamental: a ausência de uma maioria absoluta no parlamento desde as eleições de 2022.

A situação preocupa parceiros europeus como a Alemanha, que destacou a importância de uma “França estável” para a Europa, e reflete-se na instabilidade dos mercados financeiros, com o aumento dos juros da dívida francesa.