A retórica hostil do presidente norte-americano e as ações unilaterais de Washington forçam a União Europeia a reavaliar a sua dependência estratégica e a procurar maior autonomia.

A publicação do documento norte-americano, que descreve os aliados europeus como frágeis e antecipa um “apagão civilizacional” no continente devido às políticas migratórias, foi recebida com forte repúdio.

Numa entrevista, Donald Trump intensificou os ataques, classificando a Europa como um conjunto de nações “em decadência” lideradas por responsáveis “fracos”.

O presidente do Conselho Europeu, António Costa, rejeitou o que considerou uma “ameaça de interferir na política europeia”, enquanto a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que “ninguém deve interferir” na democracia europeia. A perceção de ameaça foi tão acentuada que o Serviço de Informações de Defesa da Dinamarca, um aliado da NATO, passou a incluir os EUA na sua avaliação de risco, citando a imprevisibilidade de Washington e o seu crescente interesse na Gronelândia. A estratégia de Trump, que visa apoiar “partidos patrióticos europeus”, é vista em Bruxelas como uma tentativa de fragmentar politicamente o bloco, tratando-o como um espaço a ser explorado economicamente. Este “cerco” diplomático, como descrito por analistas, força a UE a confrontar as suas vulnerabilidades e a acelerar o debate sobre a autonomia estratégica, tanto no plano da defesa como no económico, num mundo onde o seu principal aliado histórico é agora também percecionado como um fator de instabilidade.