A administração norte-americana enfrenta uma tempestade perfeita, com duas crises a convergir simultaneamente.

Por um lado, o prazo para o Congresso aprovar um novo pacote de financiamento termina na terça-feira, arriscando uma paralisação parcial do governo, ou 'shutdown', que poderia colocar centenas de milhares de trabalhadores em licença sem vencimento. Por outro lado, o país assiste à maior saída de funcionários públicos da sua história, com mais de 100 mil trabalhadores a apresentarem a sua demissão. Este êxodo é resultado de um programa de “demissões diferidas” implementado pela própria administração Trump com o objetivo de reduzir drasticamente a força de trabalho federal. O Gabinete de Gestão de Pessoal defende a medida como um investimento que permitirá poupanças futuras e a transição para “um sistema de emprego à vontade, moderno”. Um porta-voz da Casa Branca alega que o plano poupará “28 mil milhões de dólares por ano”.

No entanto, funcionários demissionários relatam meses de “medo e intimidação”.

Um ex-funcionário da FEMA afirmou: “Quando a segurança no emprego desaparece... partimos”.

Neste cenário, Trump iniciou negociações com os líderes democratas e republicanos do Congresso. O impasse reside na exigência democrata de prorrogar os subsídios do 'Affordable Care Act' (Obamacare), condição que os republicanos rejeitam. O líder democrata Hakeem Jeffries alertou que, sem a prorrogação, “mais de 20 milhões de americanos enfrentarão aumentos dramáticos de prémios”.

Apesar das negociações, o próprio Trump confidenciou que uma paralisação parece “provável”, vendo nela uma vantagem estratégica para “eliminar o que chama desperdício, fraude e abuso”.