Investigador prevê que o bolo-rei perca relevância na mesa de Natal portuguesa



Apesar de ser uma presença constante nas celebrações natalícias em Portugal, o bolo-rei é cada vez menos consumido, especialmente pelas gerações mais novas, aponta João Pedro Gomes, investigador da história da doçaria portuguesa. Segundo o docente da Escola Superior de Educação de Coimbra, o bolo-rei mantém-se na mesa por ser um "hábito identitário", embora muitos não o apreciem, preferindo outros doces como rabanadas, filhoses ou leite-creme.
Esta perceção é corroborada por uma crónica do humorista Ricardo Araújo Pereira, que notou que a sua presença é exigida mesmo que ninguém lhe toque.
Em contrapartida, para o doceiro Arnaldo Baptista, o bolo-rei continua a ser "o rei da festa".
Embora admita que as vendas de alternativas como o bolo-rainha, o escangalhado ou o panetone italiano tenham aumentado e que os jovens evitem as frutas cristalizadas, defende que os valores de vendas não são comparáveis e que o bolo tradicional continua a ser o preferido devido à sua forte tradição.
O bolo-rei representa a última grande alteração na ceia de Natal portuguesa, introduzido nos anos 1870 pela Confeitaria Nacional, em Lisboa, como uma adaptação da "galette des rois" francesa.
Rapidamente se popularizou e, nos anos 30 do século XX, já estava disseminado por todo o país.
Antes da sua chegada, a mesa de Natal era dominada por fritos doces, frutos secos e bacalhau com couves.
João Pedro Gomes acredita que o bolo-rei enfrenta uma "fase complicada" devido à sua massa pesada e às frutas cristalizadas.
A qualidade também é um fator, pois um bolo artesanal é caro e trabalhoso, levando muitas empresas a usar preparados com dezenas de aditivos. O investigador prevê que, nos próximos 20 a 30 anos, o bolo-rei perca o seu lugar central, sendo substituído por variantes sem frutas cristalizadas ou pelo panetone, de massa mais leve, transformando-se "quase num processo de transformação" para ser visto mais como um centro de mesa.











