Justiça Climática e Interdependência Global: O Apelo da ONU na COP30 para Financiar a Transição Energética do Sul

No arranque da COP30 em Belém, o subsecretário-geral da ONU, Jorge Moreira da Silva, instou os países ricos a financiarem a transição energética do Sul Global, sublinhando que a descarbonização é uma responsabilidade partilhada e uma questão de sobrevivência mútua.

Na abertura da 30.ª Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP30), em Belém, Brasil, o subsecretário-geral da ONU, Jorge Moreira da Silva, defendeu veementemente que os países desenvolvidos devem financiar a transição energética no Sul Global.

O diretor executivo do UNOPS questionou a moralidade e a viabilidade de exigir que nações pobres e endividadas abandonem os seus recursos de combustíveis fósseis, essenciais para o seu crescimento, sem um apoio financeiro robusto por parte das nações mais ricas.

Moreira da Silva destacou a gritante disparidade entre o financiamento climático prometido e o necessário.

Atualmente, os países ricos fornecem cerca de 120 mil milhões de dólares anuais, um valor muito aquém dos 2,7 biliões de dólares que os países em desenvolvimento precisam para a descarbonização e adaptação. Embora na COP29, em Baku, se tenha acordado aumentar o financiamento público e privado para um total de 1,3 biliões de dólares anuais, este montante representa pouco mais de metade das necessidades reais. Este défice de financiamento continua a ser um ponto central de negociação em Belém.

O responsável da ONU sublinhou a "enorme injustiça" da crise climática, onde os países que menos emitem, como Moçambique (com 0,1% das emissões globais), são os mais vulneráveis aos seus impactos.

Para colmatar a lacuna financeira, Brasil e Azerbaijão propuseram um plano que inclui a taxação de produtos de luxo, tecnologia e artigos militares.

Adicionalmente, Moreira da Silva salientou que o argumento económico a favor dos combustíveis fósseis é cada vez mais fraco, visto que no ano passado, em 90% dos países, a nova capacidade de energia renovável já era mais barata.

Comparando a situação à pandemia de covid-19, o subsecretário-geral argumentou que a descarbonização é uma questão de interdependência global. "Com a covid-19 nós percebemos que se não vacinássemos o Sul nunca estaríamos seguros. Com as alterações climáticas é exatamente o mesmo", afirmou, reforçando que os esforços dos países desenvolvidos serão em vão se o Sul Global não for apoiado. A COP30, que decorre pela primeira vez na Amazónia com cerca de 170 países, enfrenta o desafio de transformar este apelo em ações concretas, apesar dos problemas logísticos que marcaram a sua preparação.

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