Encruzilhadas da Esquerda: O Desafio Socialista e a Crise da Social-Democracia

As recentes eleições locais nos Estados Unidos e na Dinamarca revelam um cenário de reconfiguração para a esquerda, marcado tanto pela ascensão de propostas socialistas em Nova Iorque como pela derrota histórica da social-democracia em Copenhaga.

As recentes eleições autárquicas nos Estados Unidos e na Dinamarca pintam um quadro de contrastes e de redefinição para as forças de esquerda.

Enquanto nos EUA se assiste a um crescimento do movimento socialista, na Dinamarca, o tradicional Partido Social-Democrata sofreu uma derrota histórica.

Nos Estados Unidos, a vitória mais notória foi a de Zohran Mamdami para a presidência da câmara de Nova Iorque. Mamdami, um imigrante muçulmano de 34 anos, venceu com uma plataforma assumidamente socialista que incluía propostas como a construção de casas públicas, supermercados públicos com preços controlados, transportes e creches gratuitas. Esta abordagem, focada em soluções concretas para o aumento do custo de vida, ressoou junto de mais de um milhão de eleitores. Mesmo em vitórias democratas consideradas mais moderadas, como em Nova Jersey e Virgínia, as propostas para baixar o custo de vida foram centrais para o sucesso eleitoral.

Em Copenhaga, o cenário foi o oposto.

Pela primeira vez em mais de 100 anos, o Partido Social-Democrata, liderado pela primeira-ministra Mette Frederiksen, perdeu a presidência da câmara da capital.

A candidata do Partido Esquerda Verde, Sisse Marie Welling, será a nova presidente.

A derrota foi expressiva, com os sociais-democratas a obterem apenas 12,7% dos votos na capital e 23,2% a nível nacional, uma quebra de cinco pontos percentuais face a 2021.

O partido perdeu terreno em 87 dos 98 municípios do país, numas eleições que foram vistas como um referendo às políticas de imigração do governo. A análise destes resultados sugere lições para a esquerda, nomeadamente a importância de apresentar propostas específicas que respondam aos problemas concretos dos cidadãos, em vez de se limitar a discursos genéricos. Além disso, sublinha-se a necessidade de construir um movimento político forte e enraizado na comunidade, que vá além dos resultados eleitorais e da atenção mediática, focando-se na transformação do sistema a longo prazo.