Falha Processual Liberta Polícias Suspeitos de Exploração de Imigrantes na Operação 'Safra Justa'



A operação 'Safra Justa', conduzida pela Polícia Judiciária, desmantelou uma organização criminosa no Alentejo suspeita de explorar centenas de trabalhadores imigrantes.
A ação resultou na detenção de 17 pessoas, incluindo dez militares da GNR, um agente da PSP e seis civis. As acusações incluíam crimes de tráfico de pessoas, auxílio à imigração ilegal, corrupção, abuso de poder, fraude fiscal e branqueamento de capitais. A rede criminosa aproveitava-se da vulnerabilidade de cerca de 500 trabalhadores estrangeiros, na sua maioria em situação irregular, para obter vantagens económicas, pagando-lhes salários inferiores ao prometido e deduzindo valores arbitrários por despesas. Após os interrogatórios, o Tribunal Central de Instrução Criminal decretou a prisão preventiva para três dos arguidos civis, considerando existirem 'fortes indícios' da prática dos crimes de tráfico de pessoas e auxílio à imigração ilegal. No entanto, os dez militares da GNR e o agente da PSP foram libertados, ficando sujeitos apenas a termo de identidade e residência (TIR). Outros três civis foram também libertados, mas com medidas de coação mais restritivas, como apresentações periódicas e proibição de contactar as vítimas ou de se ausentar para o estrangeiro. A decisão de libertar os elementos das forças de segurança baseou-se numa falha processual: a não transcrição das escutas telefónicas que constituíam a principal prova contra eles. O tribunal considerou que, por lei, as escutas não transcritas não podiam ser valoradas para fundamentar as medidas de coação.
Cerca de 89 dos 231 factos imputados aos arguidos baseavam-se, total ou parcialmente, nestas escutas. Consequentemente, o tribunal concluiu pela 'inexistência de indícios dos crimes imputados' aos agentes.
O Ministério Público, que pretendia a prisão preventiva para um militar e para o agente da PSP, argumentou que a transcrição não foi 'humanamente possível' em tempo útil, mas a juíza não aceitou a sua valoração.
Segundo a investigação, os elementos policiais são suspeitos de controlar e vigiar os trabalhadores estrangeiros a troco de compensações económicas, que podiam chegar a 200 euros durante a semana e 400 euros ao fim de semana.
Entre os civis detidos encontrava-se o alegado 'cabeça' da rede e dois estrangeiros que angariavam e coagiam as vítimas.
Apesar da libertação, a Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) propôs à ministra da Administração Interna a abertura de processos disciplinares aos agentes envolvidos.











