Medo e Xenofobia: Como a Crise de Segurança no Chile Redefine a Política e Visa os Imigrantes



A segurança pública tornou-se a principal preocupação dos chilenos e o eixo central do debate eleitoral, superando temas historicamente prioritários como saúde e educação.
O aumento da criminalidade, especialmente a atuação de organizações criminosas transnacionais, alterou a vida quotidiana e a perceção de segurança no país. Em Santiago, município com o maior número de delitos cometidos por crime organizado, bairros como Meiggs foram dominados por grupos chilenos e estrangeiros, incluindo os “Trinitários” da República Dominicana, o “Trem de Aragua” da Venezuela e máfias de outras nacionalidades. Esta situação levou a uma queda drástica no comércio local, com lojistas a relatarem quebras de até 90% nas vendas e a encerrarem os seus negócios mais cedo por medo. Embora a taxa de homicídios do Chile (seis por 100 mil habitantes) seja inferior à média latino-americana, o seu rápido aumento na última década, juntamente com a mudança nas modalidades do crime, como o aumento de sequestros, alimentou uma forte sensação de insegurança.
Uma sondagem revelou que 87,7% da população percebe um aumento da delinquência.
Este cenário favoreceu o discurso de “lei e ordem” do candidato de extrema-direita, José Antonio Kast, que lidera as intenções de voto.
Kast associa diretamente a criminalidade à imigração, prometendo militarizar as fronteiras e expulsar os 334 mil imigrantes em situação irregular, a maioria dos quais são venezuelanos.
Esta retórica política colocou os imigrantes, especialmente a comunidade venezuelana, no centro de ataques e de um crescente clima de xenofobia. Imigrantes como Isnelvi Narváez, que se encontra em situação irregular, vivem com a ameaça constante de deportação, apesar de contribuírem para a economia. A comunidade venezuelana, que representa metade dos 1,8 milhão de estrangeiros no país, encontra-se num dilema eleitoral. Muitos que anteriormente apoiaram Kast para evitar um governo de esquerda, agora sentem-se traídos e alvo do seu discurso de ódio.
O medo do crime transformou-se, assim, num catalisador político que não só define as eleições, mas também aprofunda as tensões sociais no Chile.











