Alzheimer: Entre a Prevenção pelo Exercício e a Sobrecarga dos Sistemas de Apoio



A atividade física diária, mesmo em pequenas quantidades, pode ser uma ferramenta crucial para retardar a progressão da doença de Alzheimer em idosos. Uma investigação de 14 anos, conduzida por investigadores do hospital Mass General Brigham, em Boston, concluiu que caminhar pelo menos 3.000 passos por dia pode atrasar o avanço da doença em cerca de três anos, mesmo em indivíduos que ainda não apresentam sintomas cognitivos. O estudo revela que idosos que caminham menos que esta distância e possuem níveis elevados da proteína Beta-amiloide no cérebro, associada à doença, experienciam um declínio cognitivo mais rápido.
Enquanto a prevenção ganha destaque, as estruturas de apoio em Portugal enfrentam dificuldades crescentes. O Núcleo do Ribatejo da Associação Alzheimer Portugal, sediado em Almeirim, afirma estar “no limite da capacidade” devido a um “aumento substancial” de pedidos de ajuda no último ano e meio.
A psicóloga clínica Filipa Gomes atribui esta maior procura a diagnósticos mais precoces e à diminuição do estigma social associado à demência.
A associação encontra-se sobrecarregada, prestando acompanhamento direto a doentes e cuidadores, formação a instituições e desenvolvendo projetos de investigação, mas sem meios para expandir serviços essenciais como fisioterapia ou aconselhamento jurídico.
A falta de uma resposta pública estruturada é uma das principais preocupações.
Filipa Gomes aponta para a ausência de dados estatísticos oficiais sobre a prevalência da demência, os longos tempos de espera por especialistas no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e as lacunas na implementação da Estratégia Nacional para a Saúde das Pessoas com Demência. Defende, por isso, a criação de um plano nacional para as demências que integre as áreas da saúde, apoio social e enquadramento jurídico, criticando a atual fragmentação das respostas.
A psicóloga sublinha ainda a necessidade de os médicos de família poderem realizar diagnósticos, como previsto na estratégia nacional. Atualmente, o Núcleo do Ribatejo, criado em 2004, dispõe de gabinetes de proximidade em vários municípios do distrito de Santarém para levar os serviços às populações. A associação trabalha em alternativas às contenções físicas e químicas, promove a estimulação cognitiva e apoia as famílias no acesso a direitos como o estatuto de cuidador informal.
A nível nacional, a Alzheimer Portugal conta com cerca de 150 colaboradores, mas Filipa Gomes alerta que persistem “vazios” de apoio especializado em várias zonas do país.


