Cortes Orçamentais Ditames o Fim do Festival de Cinema de Melgaço

O Festival Internacional de Documentário de Melgaço (MDOC) não se realizará em 2026 após a nova autarquia ter retirado o apoio financeiro de 140 mil euros, uma decisão que gerou fortes críticas e coloca em causa o futuro de um evento com 11 edições.

A 12.ª edição do MDOC – Festival Internacional de Documentário de Melgaço foi suspensa e não terá continuidade em 2026. A decisão surge após o novo executivo municipal, liderado pelo PSD desde as eleições de outubro, ter retirado o financiamento de 140 mil euros, verba que representava 90% do apoio total ao evento. Segundo a organização, a AO NORTE – Associação de Produção e Animação Audiovisual, a falta deste apoio torna a realização do festival "inviável".

O presidente da Câmara de Melgaço justificou a medida com a situação financeira "catastrófica" encontrada na autarquia.

A decisão foi fortemente criticada pelo Bloco de Esquerda (BE) de Viana do Castelo, que a classificou como um "ataque à cultura" e um "retrocesso grave e inaceitável". O partido considera que a medida é um "ataque direto à população de Melgaço e à sustentabilidade do concelho", que enfrenta um problema estrutural de despovoamento.

Segundo dados do INE citados pelo BE, prevê-se que o concelho perca uma parte significativa da sua população nos próximos 20 anos, e eventos como o MDOC seriam ferramentas essenciais para atrair pessoas e dinamizar a economia local.

Ao longo das suas 11 edições, o MDOC afirmou-se como um evento cultural de relevância, que "projetou Melgaço no mundo e trouxe o mundo a Melgaço".

A organização sublinha que o festival se tornou um agente de transformação social, promovendo o debate sobre temas globais e envolvendo diretamente a comunidade.

Deste trabalho resultaram 40 documentários produzidos no concelho, um arquivo etnográfico e fílmico, e diversas publicações.

Na sua mais recente edição, o evento contou com 5.946 participantes.

Carlos Viana, da associação AO NORTE, admitiu que a situação pode ditar o "possível fim" do festival, embora todas as possibilidades estejam a ser analisadas.

Viana lamentou também a ausência de apoio por parte de outras entidades públicas, como a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional, que, na sua opinião, deveriam apoiar iniciativas que ajudam a transformar o território e a democratizar o acesso à cultura.