Atraso na Contratação de Médicos Ameaça SNS e Potencia Fuga para o Privado

A Federação Nacional dos Médicos acusa o Ministério da Saúde de uma 'grave falha de planeamento' por atrasar a colocação de 250 recém-especialistas, um impasse que ameaça o seu futuro no Serviço Nacional de Saúde e a qualidade dos cuidados prestados à população.

A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) e o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) denunciaram um atraso significativo na abertura do concurso de contratação para cerca de 250 médicos que concluíram a sua especialidade em outubro. Segundo a FNAM, estes profissionais permaneciam, em dezembro, sem qualquer colocação no Serviço Nacional de Saúde (SNS), apesar de o prazo legal para a abertura do concurso já ter expirado. A federação classifica a situação como uma 'grave falha de planeamento, de gestão e de responsabilidade política' imputável ao Ministério da Saúde, tutelado por Ana Paula Martins.

A FNAM alerta que este atraso tem 'consequências diretas na segurança dos doentes e no acesso aos cuidados de saúde'. Entre os médicos por colocar encontram-se profissionais de especialidades consideradas críticas para o SNS, incluindo mais de 50 de Medicina Geral e Familiar, mais de 30 de Medicina Interna, 16 de Obstetrícia, 12 de Psiquiatria e 11 de Pediatria. A federação sublinha que a integração destes especialistas poderia ajudar a mitigar problemas como o encerramento de serviços de urgência e os longos tempos de espera, que em alguns hospitais ultrapassam as 17 horas, além de dar resposta aos cerca de 15% da população sem médico de família. Para a FNAM, não existe justificação técnica ou administrativa para este impasse, que ocorre num momento em que o SNS enfrenta uma das maiores crises de recursos humanos da sua história.

O país arrisca-se a 'desperdiçar médicos altamente qualificados', formados com investimento público ao longo de mais de uma década.

A federação teme que a demora seja interpretada pelos jovens médicos como um sinal de desinteresse do Estado, incentivando a sua saída para o setor privado ou para o estrangeiro e agravando a fragilização do SNS.

Estima-se que, em média, quatro médicos abandonem o SNS todos os dias.

Perante isto, a FNAM exige que a ministra da Saúde assuma a responsabilidade política e proceda à abertura urgente do concurso.